Como pode-se depreender, a raça TABAPUÃ foi assim denominada pelo Ministério da Agricultura ao considerá-la oficialmente como raça, e a primeira genuinamente brasileira, por ter tido sua origem na FAZENDA ÁGUA MILAGROSA, município de TABAPUÃ - SP, seguindo assim uma tradição mundial de se dar a uma raça o nome da região ou município de onde se originou. Assim, a raça Tabapuã e o rebanho Tabapuã da Fazenda Água Milagrosa têm a mesma origem, e a história de ambos é em sua maior parte coincidente e sempre paralela.
Tudo começou no final de 1.940. O Sr. Júlio do Valle, amigo da família Ortenblad, costumava trazer boiadas do sertão. Como naquele tempo os animais viajavam a pé, um dos “pousos” que o sr. Júlio do Valle utilizava era a Fazenda Água Milagrosa. Numa destas viagens, em retribuição, o sr. Júlio do Valle pediu que fosse apartado, como presente, um bezerro da boiada que estava trazendo. Foi escolhido um bezerro sem raça definida, provavelmente fruto de cruzamento de Nelore e Guzerá, mas sem grau preciso de sangue entre estas duas raças. Como na época a Fazenda Água Milagrosa dedicava-se quase exclusivamente à cultura do café, este bezerro passou desapercebido durante algum tempo, só vindo a ser observado com atenção mais tarde, devido à circunstancia anômala de não apresentar chifres. Era um mocho perfeito, tinha ótima conformação de carcaça, bons aprumos, cupim desenvolvido e bem localizado, excelente pigmentação, e cascos e focinho pretos. Como o caráter mocho é altamente transmissível e dominante, inescapável foi a ideia de se formar um plantel mocho com os descendentes deste animal e, possivelmente, não só um plantel, mas uma nova raça zebuína, genuinamente brasileira. Sendo esta a intenção, deu-se o nome a este animal de Tabapuã, seguindo tradição internacional explicada no parágrafo anterior.
O touro Tabapuã foi marcado a fogo com o número T-0, e organizado um fichário completo a partir de 1.943. No entanto, esta era uma empreitada solitária, já que nada garantia que se obtivesse sucesso nos acasalamentos futuros, e que o rebanho que se iniciava realmente apresentasse méritos para ser considerado como raça, o que, aliás, só veio a ocorrer cerca de 30 anos depois, em caráter provisório, e 40 anos depois, de forma definitiva. O acasalamento do touro Tabapuã T-0 era um problema a ser resolvido nos anos à frente, pois sendo um mestiço, sem grau de sangue definido dentro das raças zebuínas existentes, não havia matrizes com o mesmo fenótipo dele, e menos ainda, matrizes mochas. Para simplificar, era um Adão sem Eva. Assim, os acasalamentos programados teriam de ser feitos entre heterozigotos. Foram então adquiridas, de diversas fontes, cerca de 100 matrizes de chifre, mas com características semelhantes ao do touro Tabapuã T-0. Foi este o ponto de partida em 1.942, com acasalamento entre heterozigotos, mas tendo em mente, em futuro remoto, a formação de uma raça zebuína homozigota.
Dr. Alberto Ortenblad, que como vimos nos tópicos anteriores era um apaixonado por pesquisa aplicada, não se importando com retorno financeiro rápido, e muito menos deixava-se abater caso algum projeto viesse a demandar décadas para ser concluído. É emblemático que, já aos 80 anos de idade, tenha implantado reflorestamentos com essências florestais nativas, cuja maturação levaria quase 100 anos para se efetivar. Concluiu então que precisava estudar genética, matéria da qual tinha conhecimento apenas superficial, para ter embasamento técnico e científico no sistema de acasalamento a ser adotado, e em relação ao programa de aferição de resultados obtidos, fossem positivos ou não. Dois caminhos se abriam, lastreados basicamente em estudos dos geneticistas José da Costa Guerra e Ronald A. Fisher: O “sib mating” que é o acasalamento entre irmãos e primos, mais utilizado em espécies com muitas crias por vez, e o “in and in breeding”, de acasalamentos sucessivos paternos, de filhas e netas com o próprio pai e avô.
No primeiro sistema, a consanguinidade se dissiparia com maior rapidez, mas determinaria maiores dificuldades de aferição dos resultados, ao mesmo tempo em que retardaria a obtenção do objetivo primordial: tender para futuras gerações homozigotas. O segundo caminho foi assim o escolhido e, mais de meio século depois, ainda é utilizado na Fazenda Água Milagrosa com excelentes resultados. Porém, para que o sistema de “in and in breeding” tivesse sucesso, havia ainda uma indagação a ser respondida, pois o que se tentava era formar uma raça partindo apenas de um animal: teria o touro Tabapuã T-0 “predomínio hereditário”? A transmissão genética unilateral é uma lei privativa de certos indivíduos que são dotados do que se chama em zootecnia de “potência hereditária individual”. Por esta lei, os animais dotados desta potência hereditária individual transmitem seus próprios caracteres com PREDOMÍNIO sobre os atributos de sua parelha sexual e os de sua família. Estes indivíduos, ensina Costa Guerra, “são os RAÇADORES CLÁSSICOS ou GRANDES RAÇADORES capazes de, por si só e pela sua exclusiva organização individual, melhorar a família e se CONSTITUÍREM EM FUNDADORES DE TRONCOS DE RAÇA”. Este era o teste ao qual o touro Tabapuã T-0 teria de ser submetido. Se não passasse neste teste, ou seja, se não comprovasse, sem sombra de dúvida ter “potência hereditária individual” e “predomínio hereditário”, todo o projeto estaria inviabilizado. Como veremos, o Tabapuã T-0 provou inquestionavelmente merecer a classificação mais alta, a de GRANDE RAÇADOR.
Como seleção é uma tarefa impiedosa, onde não devem entrar fatores subjetivos e muito menos orgulho pessoal, o sistema adotado de “in and in breeding” (acasalamento em linha reta) não permitia a utilização dos machos de primeira geração. Por melhores que fossem, eram sistematicamente castrados e vendidos para corte.
A primeira geração foi, assim, composta apenas de fêmeas, filhas do touro Tabapuã T-0 com vacas semelhantes a ele, porém com chifre. Esta primeira geração de fêmeas era bastante uniforme, com bom desenvolvimento, e com alto percentual de mochas perfeitas.
A segunda geração (filhos-netos e filhas-netas do T-0) tornou-se de grande importância, pois nela encontrou-se animais de excelente qualidade, como outros recessivos, que foram descartados. Todos os dados de performance eram anotados nas fichas, assim como a ainda incipiente genealogia. Dizemos dados de performance pois desde o início anotava-se pesos ao nascer, na desmama e, sucessivamente, até 24 meses de idade, tanto para os machos quanto para as fêmeas. A partir desta segunda geração, foram mantidas as melhores vacas de chifre e as mais perfeitas filhas do T-0. As vacas de chifre foram eliminadas totalmente a partir da terceira geração. Cumpre notar que, quando da existência da segunda geração, Dr. Alberto Ortenblad já tinha conhecimento completo dos animais que a compunham, mas não tinha ainda a menor previsão quanto ao resultado da introdução dos novos touros - os filhos-netos. Por isto, de início formou-se famílias distintas, até que existissem dados conclusivos.
Os efeitos depressivos de consanguinidade, temidos por todo criador, não foram observados no caso da formação da raça Tabapuã. Disto resultou o abandono de famílias separadas, passando o plantel a formar um só conjunto, em que cada filho-neto era destinado a um determinado lote de fêmeas.
De todos os filhos-netos escolhidos para monta natural, sobressaiu pela progênie o touro Horizonte T-135, filho do Tabapuã T-0 e de sua primeira e melhor filha, Copa T-1. O touro Horizonte T-135 nasceu em 23/01/1952, e os primeiros filhos dele começaram a nascer no final de 1955, só sendo passíveis de julgamento preciso quanto ao potencial genético paterno por volta de 1957. Considerando-se que o touro Tabapuã T-0 iniciou seus acasalamentos no final de 1942, foram necessários precisamente 15 anos para se ter certeza dos resultados, embora fossem, desde o inicio, promissores.
Se o touro Tabapuã T-0 foi o genearca da raça, Horizonte T-135 foi o seu grande raçador, e dele até hoje descendem os melhores animais da raça. Neste ponto é necessário falar um pouco do tipo de seleção que, nas décadas de 40 e 50, imprimia-se no Brasil às raças zebuínas originárias da Índia. Prevalecia o cromismo. Os animais das raças indianas eram classificados, selecionados e valorizados quase apenas por minúcias de padrões raciais, raramente por eficiência e performance.
O grupamento genético que constituía o plantel da Água Milagrosa era, naquela época, apenas um promissor rebanho de mestiços. Não havia registro genealógico e não podiam participar de exposições. O rebanho da Água Milagrosa não tinha portanto, para a imensa maioria dos criadores, outro valor que não o de corte. E era justo que assim fosse. Antes que um grupamento genético possa vir a ser considerado como raça, é imprescindível que tenha de comprovar méritos para tal. Esta foi a nossa sorte, pois se as demais raças zebuínas clássicas estavam engessadas por detalhes que nada tinham de funcional ou econômico, o mesmo não ocorria com aquele rebanho de “mestiços”. Estávamos livres para subordinar características “raciais” àquilo que realmente interessa: fertilidade, prepotência genética, habilidade materna, rusticidade e precocidade (terminação de carcaça rápida). E assim foi desde o início.
As características raciais foram sendo ajustadas à funcionalidade econômica de indivíduos e do rebanho. Isto não quer dizer que não se tinha em mente a necessidade de uniformização racial - muito ao contrário, a raça Tabapuã é extremamente uniforme racialmente. O primordial era produzir animais que dessem lucro e, para tal, teriam de ser extremamente eficientes. Se não o fossem, aliás, o Tabapuã jamais teria se tornado uma RAÇA, pois a mera uniformização fenotípica é apenas uma condição necessária, mas não suficiente. O teste de eficiência (e prepotência genética) é o essencial. E entre a oficialização provisória, em 1971, e a definitiva, em 1981, poucas raças foram tão testadas e tão exigidas como a Tabapuã. Mas voltemos à formação das primeiras gerações do rebanho da Água Milagrosa.
Como se pode imaginar pelo que foi dito até agora, o plantel, já com algumas centenas de animais, não tinha valor comercial. A sua seleção mantida por Dr. Alberto Ortenblad, e por seu irmão mais velho, Dr. Rodolpho Ortenblad, praticamente não tinha retorno financeiro. Era comum os irmãos doarem reprodutores a amigos, para que “experimentassem”. Curiosamente, a primeira venda de vulto foi realizada para um criador argentino, Dr. Alfredo Duilsberg, em 1959. Aliás, a Argentina foi o primeiro país estrangeiro a reconhecer oficialmente a Tabapuã como raça, em 1974.
Da terceira geração em diante, já tendo sido testados e aprovados diversos filhos-netos e filhos-bisnetos do T-0, a seleção pôde prosseguir com maior segurança, mantendo-se os mesmos e rígidos critérios, sempre focados em características econômicas e carga genética. Na passagem da segunda para a terceira geração, em 1954, os irmãos Alberto e Rodolpho separaram-se, como mencionado nos primeiros tópicos deste “site”, ficando Alberto Ortenblad com a Fazenda Água Milagrosa, Tabapuã - SP, e Rodolpho com a Fazenda Santa Cecília, Uchôa, SP, também tradicional selecionadora da raça.
Um adendo: hoje a Fazenda Água Milagrosa está já na 10ª para a 11ª geração, com um rebanho quase exclusivamente fechado. Havia, em meados da década de 50, grande curiosidade com o que se chamava de “zebu mocho”, mas continuávamos excluídos de exposições e de provas de ganho de peso. Muito devemos ao Dr. João Barisson Villares, então Diretor do Departamento da Produção Animal da Secretaria da Agricultura do estado de São Paulo, técnico extremamente competente e provido de espírito aberto a novidades, desde que embasadas em dados convincentes. O Dr. Barisson Villares, em 1961 e após três longos anos de contatos, permitiu, apenas a nível estadual, que animais “zebu mocho” fossem admitidos em exposições, estabelecendo para tal o primeiro padrão racial do que viria a ser a raça Tabapuã, criando inclusive um “registro genealógico”, válido apenas no estado de São Paulo, cujo símbolo era um ícone de quilo (K).
E, mais importante ainda, passamos a ter acesso a provas de ganho de peso oficiais, que era tudo o que desejávamos para poder demonstrar o valor do grupamento genético. Em decorrência de normativas oficiais, o “Mocho Tabapuã” da Fazenda Água Milagrosa, a partir de 1961, passou a ter posição de convívio com as demais raças, mas ainda apenas dentro do estado de São Paulo. E foram realmente as PROVAS DE GANHO DE PESO oficiais, realizadas em Barretos, SP, que deram grande impulso ao Tabapuã. De 1961 a 1965, foram realizadas cinco provas de ganho de peso, nas quais os animais da Água Milagrosa venceram em quatro anos (1961, 1962, 1963 e 1965), sendo que o Nelore venceu em 1964. A partir de 1.965 estas provas foram interrompidas, mas o que queríamos demonstrar já estava realizado. Abaixo, os resultados das provas de 61, 62 e 63 (deixamos de apresentar as de 64 e 65 por terem apenas a participação de três criadores, sendo portanto inexpressivas).
PROVA DE GANHO DE PESO DE BARRETOS
(Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo)
GRUPO DE MACHOS 1961 | |||
Lote Nº 6 animais | Raça | GANHO MÁXIMO - KGS. | |
Individual | Do Lote | ||
1 | Nelore | 73 | 394 |
2 | Nelore | 116 | 582 |
3 | Nelore | 118 | 560 |
4 | Nelore | 109 | 539 |
5 | Tabapuã | 137 | 640 |
6 | Gir | 95 | 453 |
7 | Gir | 88 | 407 |
8 | Gir | 88 | 426 |
9 | Gir | 103 | 476 |
GRUPO DE MACHOS 1962 | |||
Lote Nº 6 animais | Raça | GANHO MÁXIMO - KGS. | |
Individual | Do Lote | ||
1 | Gir | 107 | 508 |
2 | Gir | 113 | 608 |
3 | Gir | 109 | 507 |
4 | Gir | 122 | 671 |
5 | Gir | 112 | 560 |
6 | Gir | 115 | 580 |
7 | Tabapuã | 156 | 844 |
8 | Tabapuã | 142 | 739 |
9 | Nelore | 153 | 621 |
10 | Nelore | 128 | 698 |
11 | Nelore | 115 | 633 |
GRUPO DE MACHOS 1963 | |||
Lote Nº 6 animais | Raça | GANHO MÁXIMO - KGS. | |
Individual | Do Lote | ||
1 | Nelore | 133 | 630 |
2 | Nelore | 129 | 609 |
3 | Nelore | 120 | 673 |
4 | Nelore | 110 | 588 |
5 | Nelore | 128 | 653 |
6 | Nelore | 131 | 364 |
7 | Tabapuã | 147 | 694 |
8 | Gir | 92 | 473 |
Com a divulgação dos resultados destas provas de ganho de peso, e as exposições a que passamos a poder comparecer dentro do estado de São Paulo, houve um grande impulso para o Tabapuã da Água Milagrosa, tanto em termos de divulgação, quanto comerciais. É preciso que se diga que, a partir da década de 60, outros núcleos de “zebu mocho”, não necessariamente com sangue dos animais da Água Milagrosa, foram surgindo ou ganhando destaque pelo Brasil afora, principalmente nos estados de Goiás, Bahia, Minas Gerais e Mato Grosso. Mas todos, inclusive o rebanho da Água Milagrosa, eram ainda apenas grupamentos genéticos. Dr. Alberto Ortenblad percebeu que era necessário congregar estes criadores, esparsos pelo país.
Fundou então, em 14/10/1968, a Associação Brasileira dos Criadores do Mocho Tabapuã, oficialmente reconhecida pelo MINISTÉRIO DA AGRICULTURA mais de um ano depois, através da Portaria de nº 27, datada de 13/11/69, publicada no Diário Oficial da União em 27/11/69 à página 10.199. A Associação Brasileira dos Criadores do Mocho Tabapuã obteve o registro nº 8 do Ministério da Agricultura. Não foi fácil obter-se tal façanha, pois se finalmente conseguíamos uma Associação de âmbito nacional, ainda não tínhamos o Tabapuã oficialmente reconhecido como raça. Ou seja, tinha-se um fato inédito: havia a Associação, mas ainda não havia a “raça”. Para a criação da Associação e seu reconhecimento oficial, e, finalmente, para ter-se o Tabapuã reconhecido oficialmente como raça, embora de início de forma provisória, Dr. Alberto Ortenblad contou com o apoio abnegado de criadores, funcionários e técnicos da Secretaria da Agricultura de São Paulo, funcionários e técnicos do Ministério da Agricultura, membros e diretores da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebú), e técnicos e professores de diversas universidades e centros de pesquisa animal.
Os nomes são tantos que, se tentássemos mencioná-los todos, certamente pecaríamos por omissão. Formada e oficialmente registrada a Associação, respectivamente em 1968 e 1969, o passo seguinte seria o de se obter o reconhecimento oficial da Tabapuã como raça. Entre 1969 e 1971, Dr. Alberto Ortenblad empreendeu mais de vinte viagens a Brasília, por ele exclusivamente custeadas, no único intuito de conseguir o que ele havia iniciado há 30 anos atrás: a formação da raça Tabapuã. Foi um longo e exaustivo processo, vencido etapa por etapa, obstáculo por obstáculo. E a tarefa era tão absorvente que Dr. Alberto Ortenblad, morando no Rio de Janeiro, onde possuía uma rentável firma de construção civil, resolveu fechá-la para poder se dedicar ao maior objetivo de sua vida: Conseguir o reconhecimento oficial do Tabapuã como raça. E não por orgulho, mas sim por ter a certeza de que ali se encontrava um rebanho, já disseminado por todo o país, que tinha muito a contribuir para a pecuária brasileira.
Em 1970, o Ministério da Agricultura nomeou uma comissão de técnicos para percorrer o país e verificar quantitativa e qualitativamente, todos os rebanhos de “zebu mocho” existentes. Após meses de viagens, esta comissão ministerial apresentou parecer favorável. No dia 05/12/70 houve histórica reunião do Conselho Técnico da ABCZ, que aprovou o padrão racial da raça Tabapuã, homologado pelo Ministério da Agricultura em 04/01/71. O Tabapuã finalmente estava reconhecido oficialmente, mas ainda não como raça, e sim como “tipo”. Sabiamente, o Ministério da Agricultura estabeleceu um prazo de dez anos a contar de 1971, para que, no decurso deste período, rebanhos de todo o país fossem testados em provas de ganho de peso, em provas de Controle de Desenvolvimento Ponderal (CDP) e demais testes que aferissem eventuais qualidades da raça, inclusive sua carga genética. Até então todos os registros genealógicos de nascimento e definitivos (RGN e RGD) seriam provisórios. Só dez anos depois é que haveria uma decisão final: se o “Tipo” apresentasse méritos, tornar-se-ia, definitivamente, em RAÇA. Caso não, voltava-se à estaca zero, e tudo o que se houvesse feito até então perderia o valor.
De qualquer forma, em 01 de fevereiro de 1971, houve o primeiro registro da raça Tabapuã, realizado na Fazenda Água Milagrosa, e o primeiro animal registrado foi o touro BAILE DE TABAPUÃ T-1210, com o RGD nº 1. Este touro, nascido em 15/10/62, era, para a época, um fenômeno. Criado quase exclusivamente a campo, pesou 1.040 kgs aos 48 meses, o que hoje, passados mais de 30 anos, ainda é um número expressivo. Baile de Tabapuã era filho de Estiloso T-308, neto de Horizonte T-135 e bisneto quatro vezes, nas linhas alta e baixa, de Tabapuã T-0.
Também nesta data, o touro BABAÇÚ de TABAPUÃ T-1175, nascido em 22/06/62, obteve o RGD nº 10. Babaçú de Tabapuã era filho de Sultão T-422, neto de Horizonte T-135 e bisneto e tataraneto seis vezes, nas linhas alta e baixa, de Tabapuã T-0. Assim como seu avô Horizonte T-135 foi fundamental raçador da 2ª para a 3ª geração, Babaçú de Tabapuã foi fundamental na padronização do rebanho, e, principalmente, no avanço de peso ponderado da 4ª para a 6ª geração. Estava vencida uma batalha, mas não a guerra. Agora o Tabapuã como um todo, e não apenas o da Água Milagrosa, teria dez anos para provar que merecia ser raça.
E assim como as vitórias nas Provas de Ganho de Peso de Barretos, SP, no início da década de 60, haviam sido fundamentais para chamar a atenção para o que viria a ser a raça Tabapuã, o CDP (Controle de Desenvolvimento Ponderal) da ABCZ/Embrapa/MA, que teve inicio em 1975, foi vital para a aceitação do Tabapuã como raça. E o CDP tem duas vantagens sobre as Provas de Ganho de Peso: primeiro, porque ao contrário destas, no CDP as fêmeas também participam. Segundo porque, sendo as pesagens realizadas nas próprias fazendas, incluem a grande maioria dos animais que obtiveram RGN, refletindo assim a verdadeira média de cada rebanho e de cada raça.
De 1975 a 1987 (13 anos) o Tabapuã sozinho venceu 80% de todas as pesagens, em todas as idades e em todos os regimes alimentares, e as demais raças zebuínas juntas, venceram apenas 20% das pesagens. E no caso específico do Tabapuã, este fato reveste-se de maior importância ainda, quando se verifica que o Tabapuã é a raça com maior índice de participação nos CDP, proporcionalmente ao tamanho de seu rebanho.
Finalmente, em 1981, o TABAPUÃ foi definitivamente reconhecido como raça, e pouco tempo depois teve seu Livro de Registro Genealógico, que até então funcionava como LA (Livro Aberto), fechado, passando os animais à condição de PO (Puros de Origem). Dr. Alberto Ortenblad foi voto vencido nesta questão, já que defendia a permanência do Livro aberto por mais tempo, para dar chance a criadores que estavam se iniciando na criação e seleção da raça Tabapuã.
Hoje a raça Tabapuã, que tem apresentado um crescimento qualitativo e quantitativo vertiginoso, com um universo de centenas de milhares de cabeças, é criada em todos os estados brasileiros e também na Argentina, Paraguai, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Guatemala e Angola.
Dr. Alberto Ortenblad, falecido em 29/08/94, presidiu a Associação Brasileira dos Criadores do Mocho Tabapuã, atual ABCT, desde sua fundação em 1968 até 1993. Durante estes 25 anos, custeou pessoalmente todas as despesas da Associação, já que seu objetivo era congregar o maior número possível de criadores. Quando entregou a presidência da ABCMT (hoje ABCT), contava ela com 628 associados, entre técnicos e criadores, todos entusiastas da raça. Na ultima edição de seu livro, “O Tabapuã da Fazenda Água Milagrosa”, já com idade avançada, Dr. Alberto Ortenblad descreveu a atividade agropecuária com palavras simples, porém tocantes: "Extenso e apaixonante campo de atividade é este, exercido no silêncio do isolamento, nem sempre isento de revezes, amálgama de negócio com prazer, em que sentimos, como em nenhum outro, a rapidez do curso da vida, curta demais para o objetivo visado".
Fonte: Água Milagrosa